7.9.07

A Verdade Oculta



"Se nos debruçarmos mais a profundamente sobre as antigas religiões e tradições espirituais da humanidade, chegaremos á conclusão de que apesar das muitas diferenças superficiais existentes, há dois princípios básicos com que todas concordam. As palavras usadas para descrever esses princípios diferem, mas todas apontam para a mesma verdade fundamental, que está dividida em duas partes. A primeira parte desta verdade é a percepção de que o estado de espírito normal da maior parte dos seres humanos contém uma forte componente do que podemos chamar de disfunção ou até loucura. Certas doutrinas que estão na base do Hinduísmo talvez estejam mais próximas de considerar esta disfunção como uma forma de doença mental colectiva. Chamam-lhe maya, o véu da ilusão (A mente é maya).

O Budismo utiliza termos diferentes. Segundo Buda, a mente humana, no seu estado normal, gera dukkha, que pode ser traduzido por sofrimento, insatisfação ou simplesmente tristeza. Ele vê este conceito como uma característica da condição humana. Onde quer que vamos, o que quer que façamos, diz Buda, encontraremos dukkha, que se manifesta mais cedo ou mais tarde em todas as situações.

Segundo a doutrina cristã, o estado colectivo normal da humanidade é o estado do pecado original. Sin (pecado) é uma palavra que já foi muito mal compreendida e interpretada. Traduzido a letra do grego antigo, em que o novo testamento foi escrito, o verbo to sin significa falhar o alvo, como pode acontecer a um arqueiro, por isso to sin significa não acertar no objectivo da existência humana. Significa viver inexperientemente, cegamente e, por conseguinte, sofrer e causar sofrimento.

A mente humana está manchada pela loucura. A ciência e a tecnologia reforçaram o impacto destrutivo que a disfunção da mente humana tem sobre o planeta, sobre outras formas de vida e sobre os próprios seres humanos.

O medo, a ganância e o desejo de poder são as forças psicológicas que sustentam a guerra e a violência entre nações, tribos, religiões e ideologias, além de serem também a causa de incessantes conflitos nas relações pessoais.

Porém, é importante realçar que o medo, a ganância e o desejo de poder não são a tal disfunção ou loucura de que estamos a falar, mas sim o seu produto. Esta disfunção é uma ilusão colectiva profundamente enraizada na mente de cada ser humano. Há uma série de ensinamentos espirituais que nos aconselham a abandonar o medo e o desejo, mas estas praticas espirituais geralmente não dão resultado. Não vão á raiz da disfunção. O medo, a ganância e o desejo de poder não são os principais factores casuais. Tentarmos ser seres humanos bons ou melhores parece uma coisa louvável e de sentimentos nobres, mas é um esforço pelo qual não obteremos frutos, se não se verificar uma mudança de consciência. Esta tentativa ainda faz parte da mesma disfunção, é uma forma mais subtil e invulgar de narcisismo, de queres obter sempre mais, de desejar uma consolidação da nossa identidade conceptual, da imagem que criamos de nós próprios. Não nos tornamos bons tentando ser bons, mas encontrando a bondade que já existe dentro de nós e deixando-a vir á superfície. Porém, tal só é possível se algo de fundamental mudar no nosso estado de consciência."

Sem comentários: